6 de março de 2013

Crescendo


Ontem foi meu aniversário e eu fiquei pensando sobre os eternos paradoxos de "sem rede social quase ninguém lembraria / mas só porque viu em uma rede social não quer dizer que não seja sincero", e em sua versão contrária, sobre ver e ignorar, ou sobre nem ver e a cobrança que se bota em cima de "esquecer o aniversário de alguém". Pensei em como a gente é sortudo de poder conhecer uma pessoa, assim, muito muito muito bem. Quantas a gente deve conhecer? Sei lá, acho que umas 5 no máximo, até exagero. E até que ponto você pode dizer que conhece bem alguém?

Quando eu era mais nova e tinha a síndrome do "ninguém-é-que-nem-eu", achava que interessantes eram apenas as pessoas que aparentavam comigo. Ou seja, se você andava de coturno o dia todo e ouvia músicas depressivas, eu provavelmente ia te achar muito legal. O próprio tempo me fez abrir os horizontes e entender que cada pessoa, por mais fútil ou banal que pareça, na verdade não o é. Que a gente tem que se abrir e se deixar conhecer, pra poder também conhecer os outros. Na minha cabeça limitada, que não me permitia nem usar outra cor além de preto, é claro que eu pensava que todo mundo se limitava assim também. Uma lição a ser sempre aprimorada: não cobrar uma perfeição inexistente tanto em mim, quanto nos outros.

É comum que a gente conheça só a fachada. Só o que se quer que as pessoas conheçam. É difícil conhecer até nós mesmos, por trás de tantas obrigações sociais pelas quais passamos e ser sinceros com nossos comportamentos, desejos e falhas. Mas parece que a gente se acostuma, esquece, e o outro é que é o mistério indecifrável, quando não o clichê ambulante. Muito engraçado que com o que não conhecemos, automaticamente fingimos que sabemos de tudo, só para não ter que lidar com as diferenças ou aguentar as decepções de alguém que, de fato, não correspondeu às expectativas.

Por isso eu acho que momentos especiais de troca são tão importantes. Aqueles momentos onde você vê, nem que seja um mínimo, a alma de uma pessoa. Nesse momento há uma conexão e alguma coisa foi mudada para sempre. Para o futuro. Para o modo como você vê a vida. Admito que as vezes tenho dificuldades e tento medir as coisas com o quanto se preocupam com a parte prática do meu dia, ou o quanto de conhecimentos a gente já trocou, ou se se lembraram de mim para isto ou aquilo. Mas existe tanto além. Não que invalidem esses meios, mas existem esses pequenos fragmentos, tão brilhantes e tão raros, de verdadeira compreensão. De verdadeira conexão. E nesses momentos os fragmentos são mais do que o todo.

Um velhinho para quem eu segurei a porta um dia e me desejou que tudo de bom acontecesse na minha vida. Uma menina que me deu um anel de graça porque não cabia no dedo dela. Uma desconhecida que amparou a senhorita aqui chorando baldes no metrô. Olhar nos olhos do meu namorado desde a primeira vez em que a gente se viu. O poder que um simples "I feel you" pode ter. Aquele silêncio que não é desconfortável.

Saber que eu vivi esses momentos e que pessoas passaram por mim e me deram uma mão, me disseram que também estão aqui, que entenderam um pedacinho meu, isso tudo é tão maior do se preocupar com sentimentos de "ninguém me quer". Só tenho a agradecer.

Um comentário:

  1. além do preto. e o emoticon que aproximou a gente?
    loucurinha pensando agora NÉ? AHUSHUSHUA

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