19 de agosto de 2013

Are You My Mother?


Alison Bechdel é uma cartunista que escreveu uma história em quadrinhos sobre a relação com seu pai. Em "Fun Home", somos apresentados ao seu jeito hipnotizante de contar os fatos, memórias e emoções e correlacionar os assuntos mais improváveis como se não houvesse ligações mais óbvias. É um daqueles livros que você não consegue largar (e que eu não posso deixar de recomendar ardentemente).

Seis anos depois, ela lançou "Are You My Mother?", dessa vez sobre - como diz o título - a relação com sua mãe.

É engraçado eu usar a palavra "relações", porque ela é justamente meta-trabalhada em ambos os livros. Ligações que explicam outras ligações, fatos do passado que se relacionam com o presente, livros e autores que, lembrando aquela teoria dos "seis graus de distância", por muito pouco não colidem. É tecendo essa intricada rede que a autora desenvolve seus próprios caminhos e dificuldades.


Abrindo o livro com a frase "For nothing was simply one thing", da Virginia Woolf, nos é revelada a essência das conclusões a que Alison chega. Se é que ela chega a algum lugar, pois, ao contrário de seu pai, sua mãe ainda estava viva enquanto ela escrevia a história.

E tanto parece complexo escrever uma história sobre uma mãe que continua ao seu lado quanto é descrever esse livro que me fez de cria e genitora ao mesmo tempo. Que me arrebata com as histórias tão passíveis de identificação que parecem até minhas. Que me faz refletir sobre a minha mãe, e sobre a mãe da minha mãe, e sobre que tipo de mulher eu posso ser, sobre o que elas deixaram em mim, e sobre o que, por mais que haja os esforços, sempre falta - somos seres humanos.

É reconfortante ver que meus medos não são únicos, que meus problemas não são só meus. Que todo mundo passa pelas mesmas coisas - momentos de raiva, de inveja, de apatia. E que esses sentimentos tem explicação e transformação.












Através da psicanálise, Alison encontrou um meio por onde basear suas reflexões. Ela expõe as conclusões que chegou em diversas fases de sua vida com a ajuda de suas psicanalistas, e como tudo isso está interligado com a mulher que Alison se tornou e é, seja em seu trabalho, em suas relações ou consigo mesma.



A psicanálise traz também a capacidade para Alison interpretar seus sonhos e obter deles mensagens importantes - cada capítulo do livro abre com um sonho que ela teve e, posteriormente, analisou. Que achem simples coincidências ou não, para mim é impressionante como são matérias ricas em significados.

E nesse mergulho interior, entrando em contato até com seu inconsciente, como consequência me vejo parte da tessitura. E penso sobre as ligações que são nossas e de todo mundo. Sobre como nossos parentes diretos nos marcam muito além do que podemos ver, e a cada irmão de um jeito diferente. De como as vezes é necessário ser nossos próprios pai e mãe. E que crescer é, também, entender que eles são só pessoas e, independente dos erros, nos deram preenchimentos muito mais valiosos - mas isto cabe a cada um descobrir. Como a Alison fez.








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Preciso dizer o quanto a linguagem da história em quadrinhos passa de forma sublime o que a Alison quer dizer?
Adoro os traços e a utilização de uma só cor de destaque através do livro inteiro - um vermelho escuro, quase um vinho. Em "Fun Home", era um verde azulado. Li em uma entrevista que ela escolheu as cores porque eram as que mais lembravam seus pais. Eu não posso deixar de pensar nesses dois livros como partes complementares de um todo, interligados também pelas cores. Vermelho-laranja e verde-azul. Cores opostas.

Mais uma coisa: a capa retrata um espelho de mão, impresso de forma que podemos ver nosso reflexo nele. E aí, não deixamos de nos perguntar: "Você é minha mãe?"

Obrigada, Alison.

Um comentário:

  1. desculpa, mas esse nao li até o final. parei no meio pra comprar o livro.

    UHASUHSUHS

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