13 de setembro de 2013

Jogos Vorazes - Suzanne Collins




Terminei a trilogia "Jogos Vorazes" há duas semanas, e há duas semanas sinto aquela saudade estranha de personagens fictícios e de lugares que não existem. Estou órfã de livros.

Livros esses que poderia julgar como não sendo os mais primorosos na escrita, ou na originalidade do conceito, porém, a forma como os eventos se desenvolvem e a complexidade da personagem principal, Katniss, são o que realmente transformam essa história. Katniss, só para começar, subverte o lugar comum do mito do herói ser sempre protagonizado por um homem. Ao longo da história, vemos outras diversidades que brilham entre os clichês a que estamos acostumados: ela possui fortes ligações com sua mãe e irmã, não quer ter filhos, e foge do imaginário de que os pensamentos femininos só podem se tratar de homens ou aparências. As prioridades são outras: há uma revolução a se fazer. Na pós-apocalíptica Panem, uma distopia com reflexos muito coerentes do que vivenciamos de pior hoje em dia, prevalece o "pão e circo" para o povo. Katniss de repente encontra-se no centro das atenções do governo, e com isso, vislumbram-se as primeiras possibilidades de mudanças. Quando é que vemos meninas revolucionando o mundo?

Katniss também não é a "heroína perfeita", aquela que salva o mundo mas continua impecável em seu salto alto e sorriso contagiante. Ela comete erros e tem vulnerabilidades, não se preocupa em não estar ou ser bonita, e sabe que não está lá para agradar ninguém. Mesmo assim, nos apegamos à ela, à seu senso de justiça, sua nostalgia que a move para frente, sua inteligência e destreza. O fato dela não ocupar a posição de "menina simpática" que era esperada (por todos, eu acho, até por mim), de ela ser solitária e não precisar se transformar para atingir seus objetivos, me fez respirar aliviada, além de proporcionar um senso de identificação que encontrei poucas vezes em literatura de aventura/ação. Ainda há esperança.

Não quero parecer ditadora de verdades, não há nada de errado na existência de livros sobre romances, ou sobre compras e beleza, o problema é quando eles se tornam a norma, ou o esperado. Quando criam categorias que em seu sentido prático sequer existem, como "chick-lit" (alguém já viu um livro de "boy-lit" por aí?). Quando meninos se recusam a chegar perto por acharem que não serão contemplados e que os assuntos ditos "femininos" não são de seu interesse, são fúteis, banais. Quando passamos a associar autoras mulheres ou protagonistas mulheres sempre à essa mesma trama: inseguranças sobre peso e homens, compras de roupas e maquiagens, nenhuma aspiração além de casar e ter filhos. Existe um mundo para isso, sim, e bons livros também. Mas existem tantos milhões de outras possibilidades que não consigo ver por quê explorar uma só ou desejar que essa seja a norma.

A começar pelo projeto gráfico eficiente e neutro, que não apela para as péssimas apropriações de cores, fotos e elementos ditos como "femininos" só porque a autora é uma mulher, Jogos Vorazes é um sopro de ar fresco numa atmosfera enuviada por tantas limitações e estereótipos.

Obrigada, Suzanne.

4 comentários:

  1. verdaade. nao tinha sacado o projeto gráfico.
    oq fico puta da cara é com esse esforço pro filme ser uma besteira romântica. tipo vamos dar destaque pro gale e afins. para né, só parem ò_ó

    nesse sopro de esperança tb tem q contar o fato q é literatura dita pra adolescente com uma fodona no papel principal <3

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    1. siiiiim <3

      mas aonde vc viu isso do filme? espero que não façam, não tem razão, né.

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    2. ah, naquele link q vi mas q não passei pra vc pq tava lendo o 2 ainda, lembra? ahahah

      http://papelpop.com/2013/08/reveladas-algumas-diferencas-entre-o-livro-e-o-filme-jogos-vorazes-em-chamas/

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  2. eu sempre olhava pra essa trilogia com vontade de ler, mas também com um certo preconceito por se tratar de um livro juvenil. Existem tantos juvenis agora bombando, mas que são tão sem gracinha... Agora que você recomendou tenho certeza que deve ser bom! :)

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