17 de janeiro de 2013

Arco-íris de Gasolina

Quando eu tinha 13 anos, a maior sensação de liberdade que eu me permitia era, nos dias de tempestade, 
enfiar a cara na janela do meu quarto, mesmo com grades.

O mundo ficava em silêncio. Os tons da tarde mudavam. Dava pra sentir o cheiro da chuva no ar. Eu desligava a televisão e corria ao encontro da água. Geralmente essas tempestades não duravam mais do que meia hora, mas isso era suficiente para eu me sentir renovada. Limpa. Ainda que presa dentro da minha própria casa.

Minha relação com os dias de chuva surgiu de uma crença de que neles aconteciam sempre coisas legais. Que dias de chuva eram dias bons, e não dias em que eu voltaria frustrada para casa. Essa crença se internalizou e, no passar dos anos, evoluí meus costumes para, de fato, sair na rua justamente quando estava chovendo e abolir o uso do guarda-chuva. Mais alguns anos à frente, percebi que fazer isso geralmente me deixava de cama nos dias seguintes, e o sentimento de ter os pés molhados dentro dos sapatos já não era tão confortável (e não sei como um dia foi).


Mesmo diminuindo os passeios na chuva, admito que continuei apreciando esses aspectos que geralmente são julgados como "melancólicos", o silêncio, a sombra, os dias cinzas. Para mim eles são dias com potenciais. Dias em que a beleza não é óbvia, a felicidade não exala. Dias em que temos que olhar com um pouco mais de cuidado, pausar, refletir. Desses dias surgem tantas coisas que eu adoro. O céu branco como uma tela a ser pintada, o contraste do verde que se torna mais forte, o cheiro antes, durante e depois, ver as gotas de água nas janelas, o delicioso som. E é nesses dias que surge o fenômeno que dá nome a esse blog.

Vejo os arco-íris de gasolina como um exemplo de coisas que temos que parar para descobrir. Refletir. Vejo pessoas passando e nunca notando ou nunca pensando no que são essas manchas. Vejo também como representam traços da nossa própria vida, de dejetos e pedaços que deixamos - no caso, a gasolina, a poluição - mas que mesmo assim possuem algo de belo. Algo de múltiplo, de infinito, que brilha e refrata em cores.


Ali. No meio de um dia cinza e chuvoso. Um ponto de iluminação na alma.

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