2 de abril de 2013

Em casa



Ano passado eu fui para São Paulo e essa viagem foi importante principalmente porque coincidiu com a época em que eu estava fazendo meu projeto de conclusão de curso. O projeto, um livro ilustrado com fotografias e textos meus, ganhou mais riqueza com essa visita às origens. Eu, que na hora nem esperava, ganhei um entendimento maior sobre mim mesma, de maneira tão subjetiva que mal consigo explicar. Da mesma forma que meu projeto fechou um ciclo, a viagem também o fez, de outras maneiras.




Acabei de voltar de São Paulo mais uma vez e, me atualizando nas leituras pela internet, a Hila escreveu exatamente sobre o ponto que me tocou nessa visita.





Ela nasceu em Israel, mas mora na Austrália há mais tempo do que viveu por lá. Ela diz que a Austrália é confortável e que provavelmente nunca mais vai morar em Israel, mas que a Austrália nunca vai ser um lar no mesmo sentido que Israel o é.

Eu sou meio assim também. Nasci em São Paulo e fiz muitas mudanças até passar algum tempo considerável por lá, dos 5 aos 11 anos de idade. E aí vim para o Rio, o que hoje em dia totaliza quase o dobro de anos que eu morei em São Paulo.

Nesse final de semana, enquanto saíamos com paulistas, uma menina me disse: "mas você não é paulista, de tanto tempo fora daqui" e isso não deixa de ser verdade. Eu analiso que sou muito mais carioca do que paulista. Mesmo não tendo o estereótipo de carioca, nem na aparência, nem nas preferências. Digo que o Rio me acolheu de formas que eu não esperava.



Quando me mudei pra cá, odiava o calor, as pessoas, o sotaque, a mania de ir à praia e como tudo era tão informal que as pessoas se sentiam à vontade para ir de chinelo pro shopping. Certamente minha vida teria sido muito diferente em São Paulo. Certamente eu não teria passado por muito do que eu passei. Mas não tenho arrependimentos, gosto daqui, das histórias, do meu passado. O Rio me trouxe muitas coisas, e não consigo imaginar cidade mais linda, apesar de todos os problemas.

Dessa vez, nesse mesma saída com os paulistas, a um quarteirão de distância de um dos prédios em que eu morei, eu senti algo que eu nunca sinto aqui. Passando pelas avenidas que eu tanto andava por lá, me veio uma nostalgia e uma sensação de conhecer aquilo quase mais profundamente do que eu mesma.

Me vieram lembranças. Minha casa, minha família, minha infância. E eu percebi, como a Hila, que aquilo não existe mais. Que eu sinto saudades de algo que tá só dentro de mim. Mesmo que eu voltasse a morar lá, tudo exatamente nas mesmas posições, não seria nada igual. Voltar lá não é voltar para o que era, mas é como se a aura de tudo ainda estivesse por lá, sutilmente.



E pra quem vê de fora, deve ser como um sonho imaginar aquela varanda do quinto andar povoada por duas meninas e um bebê, às vezes cantando, às vezes montando mansões da Barbie, às vezes lavando o chão com vassouras e rodos. A antiga fábrica da Kopenhagen diretamente na frente, espalhando um cheiro doce de chocolate no por-do-sol. Do lado, uma ruazinha tão vazia que era possível andar de bicicleta no meio dela. O sol de uma manhã de domingo que batia de leve no carpete bege, a sala com bóias de piscina espalhadas e uma estante cheia de revistas e livros sobre pedras preciosas. E, nos dias de chuva e granizo, uma dessas meninas em especial sempre se sentava no chão da sala e observava as gotas, ou pedrinhas, caindo lá fora.

A cidade continua linda, dentro e fora de mim.




2 comentários:

  1. nhooooin, mas então, e eu q sinto coisas parecidas com joinville, mas em partes da cidade, apenas?
    onde eu passei a infância me dá toda essa coisa de lembranças, ou melhor, de um lugar que só existe, agora, dentro de mim.

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  2. No meu caso, a nostalgia fica a um quarteirão da minha atual casa. É praticamente do lado, mas quando passo andando ou de carro pela rua sinto aquela saudade. Dou aquela olhadinha pra cima, para a varanda, tentando ver quem está ali morando agora. E ai, chego na minha casa.

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