25 de novembro de 2013

Look Both Ways


Descobri esse livro enquanto fazia a pesquisa para minha monografia. Junto com a Maira Kalman, foi uma grande inspiração, mesmo eu só pondo as mãos na cópia física dele um ano depois de me formar. Só de saber que existe gente fazendo esse tipo de coisa e conseguindo transmitir sua mensagem já era suficiente para mim.

Look Both Ways é composto por pequenos capítulos autobiográficos e não cronológicos de situações da vida da autora onde o design e seus desdobramentos são peça principal, seja para criar um aspecto cômico, nostálgico ou mesmo de empatia com o leitor (aliás, o primeiro capítulo do livro é justamente sobre uma exposição da Maira Kalman). O livro por si só já é uma obra de arte, a começar pela capa, feita pelo Rodrigo Corral, que sobrepõe de maneira literal e inteligente a arte e a vida que fazem parte do subtítulo ("Illustrated Essays on the Intersection of Life and Design"); cada um dos capítulos está escrito em uma técnica e estilo diferente, formando um quase-sketchbook-diário que, além de lindo, nos faz imaginar como são variadas as formas de ilustrar palavras, de passar mensagens, e como é vasto e subestimado o campo da tipografia.

Debbie Millman, reconhecida por seus trabalhos na área de branding, tenta mostrar de forma sutil a ligação que temos com produtos e marcas desde nossa infância e como isso nos molda. Embora marketing não seja a área que eu mais goste no design, simpatizo muito com design emocional, que acaba tendo alguma ligação com isso. Nossas memórias de infância, de brinquedos e roupas que usávamos, de doces com embalagens bonitas, tudo isso fica registrado e nos dá aquela sensação de que estamos em casa, mesmo tendo se passado muitos anos. Acho que isso é um bom trabalho de marketing. Memórias boas para seres humanos, e não objetos e serviços inúteis para consumidores insossos. Debbie caminha no limite entre esses dois polos, nos mostrando sua coleção de balas e elásticos coloridos, mas também a adolescência marcada pela vontade do status de uma calça Levi's, e finalmente à conclusão de que nenhuma marca ou produto possui o poder de te satisfazer infinitamente, e que buscar por isso é um caminho que nunca terá fim.

As partes mais tocantes são as que ela expõe seus sentimentos sobre como não sabia qual seria seu futuro profissional, suas fantasias sobre o que poderia ter sido e não foi e a grande ignorância humana sobre todas as tantas coisas que existem e que não fazemos nem ideia. Vivemos apenas determinadas coisas, e é impossível não imaginar que tipo de pessoa não seríamos se tivéssemos ido para o outro lado. Se pudéssemos saber quem seríamos no futuro. Se soubéssemos de tudo que existe no mundo.

Porém, se assim fosse, perderíamos a esperança, a memória e a coragem que temos de tentar. De repetir. De perseguir nossos incômodos até resolvê-los. E a história da Debbie mostra que isso vale a pena. Olhar para os dois lados é melhor do que para um só.

Obrigada, Debbie.


Pra ler um dos capítulos inteiros: aqui no Brain Pickings
Pra ver mais imagens dos textos: aqui
E pra ler uma entrevista com a Debbie porque ela é o máximo: aqui <3

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