19 de novembro de 2013

Swimming Studies



Leanne Shapton treinou natação dos 8 aos 20 anos, e por duas vezes quase foi para as Olimpíadas. Nesse livro, ela narra sobre "o que acontece quando você é bom em uma coisa, mas não excelente", e como esse treinamento, o único formal que a autora teve em toda a sua vida, se desdobrou nos caminhos da arte e da pintura, da disciplina e do autocontrole em todas as outras áreas de sua vida.
"In giving up the laps, the control and the reward system that swimming used to represent, I know that I should do the same with my marriage; that as much as I need to maintain it and pay attention to its currents and riptides, it's not something to win, not a course of known length with smooth, clear lanes. It is my small, open body of water, and if I'm careful, it may sustain me."
Como ondas, o livro é escrito em pequenos capítulos não cronológicos, nos dando vislumbres de momentos apenas, todos com piscinas, água e natação presentes. A maioria deles nos deixa querendo ler mais, como se ela nos envolvesse e repelisse, para nos prender novamente nos últimos parágrafos e terminarmos curiosos. Mas podemos saciar um pouco dessas curiosidades: Leanne colocou pinturas e fotografias entre os textos, que vão de cores sinestésicas dos cheiros de natação à um inventário de todos os maiôs e biquínis que ela já teve e ilustrações de piscinas onde nadou ao redor do mundo. As diferentes formas de registro de memórias se complementam e deixam novas nuances para nossa imaginação.

"I think of illustration as a version of what we understand already, and in most cases we choose to be attracted to and see, whereas art reveals something we haven't yet seen, that hasn't yet been articulated, at least not in a familiar way."
E lado a lado com o valor lúdico da água e seus experimentos, Leanne também proporciona um mergulho no mundo dos atletas, do qual participou. É verdade que admiramos os atletas por sua estoicidade, pela realidade que enfrentam todos os dias e da qual nunca os ouvimos reclamar: acordar no frio das 5 da manhã no Canadá, treinar 12 vezes por semana, sentir dores que não passam a não ser quando você está treinando, cronometrar tempos, competir, começar tudo de novo. A disciplina de um atleta, que a autora conheceu quando jovem, posteriormente sumiu e deixou em seu lugar a busca por esse foco cego e certo em que ela se mantinha. Em uma conversa com amigos, muitos anos depois, todos chegam à conclusão de que uma pessoa deve fazer o que deve fazer, mesmo que a preguiça teime em tentar nos arrastar de volta para a cama.


O capítulo que eu mais gostei é o que ela fala sobre seu medo e fascinação por tubarões, comparando os comportamentos que associamos à esses animais com nossos próprios instintos de voracidade e destruição. Ela chega à conclusão de que os medos que sente em relação a eles são diretamente relacionados aos medos em relação ao amor, à solidão e ao desconhecido. E não é isso o que fazemos? Projetamos a nós mesmos em tudo no mundo.
"The hopes and dreams I've held around love have an oblique counterpoint. My dread of sharks is my fear of loneliness, vulnerability, violence at the hands of something physically stronger, unemotional (and hungry). Also in the wings is the fantasy of submission, the danger of longing to be consumed by something strange."
"Shark attacks are anthropomorphized crimes of passion, even divorce. The negative appetites that are attributed to  sharks - greed, compulsion, cold-blooded ambition, violence, gluttony - are human vices. We all have savage sides and gaping maws, we all are capable of eating and being eaten. Even the language of love is destructive: Love will tear us apart."
Swimming Studies dá vontade de nadar. Mas nos lembra do esforço, da transcendência, da persistência de nadar, e não da diversão. Se o Chronology of Water é um impulso para entrar na piscina, esse livro é a motivação para continuar, chegada após chegada. E mesmo com a motivação, também nos lembra de como é frustrante não melhorar, não conseguir, não exceder o esperado. Quantas vezes precisamos repetir algo até acertar?
"Whenever I begin a large project, and when, as a swimmer, I contemplate a practice, a mental image appears: a grayish Sisyphean mound I need to ignore in order to begin to climb. After twenty years I still search for the dumb focus I had as a competitive swimmer. After a hundred workouts I might be faster. After a hundred CBT sheets I might feel better. After a hundred lenghts I might be healthier. After a hundred pages, a hundred sketchbooks, when will it feel right?" 
Ser "especial" é composto sempre por fazer um milhão de coisas "não especiais" - e é isso que a gente esquece todo dia.
"The idea of specialness occurs to me one night when I can’t sleep (or bake). That as good athletes, we defined ourselves as special, then submitted to a routine in which we did exactly as we were told. I think of the limitations that ‘specialness’ requires: doing a series of very unspecial things, very well, over and over, a million times over, so that one special thing might happen, maybe, much later. So – I think to myself in the four a.m. blear, face squashed into my pillow – specialness is sanctioned, rigorous unspecialness. An unexpected feeling of relief flows over me. Then dissipates as I start grinding my teeth." 
Talvez seja por isso que eu demorei tanto para escrever minha opinião sobre ele. Me lembra de como eu as vezes sou disciplicente e pouco comprometida. Bobeira minha, esqueço que a água e a escrita fazem parte de mim, que nelas eu exploro outros lados meus, aqueles que não vem sem esforços, mas que compensam todos.

Obrigada, Leanne.


.................

O design desse livro é lindo, da escolha do papel à diagramação, e especialmente adoro como a capa me lembra uma infância cercada por água. Tão simples e tão efetiva.

Fotos: 1, 2, 3

Um comentário:

  1. calma q tô lendo a resenha. mas ei, a sua cara esse livro *__* e eu realmente tenho q aprender a nadar

    ResponderExcluir