Poética - Ana Cristina Cesar

Conheci a Ana Cristina no meu penúltimo projeto da faculdade, em 2011. Eu e minha dupla decidimos fazer uma coleção de livros de poetas brasileiras de diferentes gerações e, na pesquisa desse material, encontramos ela. Nossa favorita de cara, foi dela o livrinho que imprimimos completo para apresentar.

Nota: publicação fictícia, a editora não tem qualquer relação com esse projeto.

Ana Cristina Cesar para mim não tem só poesia, tem essa poética envolvida em tudo. É todo um mundo criado no jeito dela de escrever e construir as coisas. Nem sempre a gente entende; é mais do tipo que te pega pelo braço e conta frases pelo meio, como se você já soubesse o resto - o problema é que você não sabe. Mas o importante não é entender. nem transformar tudo numa explicação perfeita. Poesia pra mim é muito sentir. Criar música com palavras. E o sentido de cada uma a gente só encontra dentro da gente. 

"Poética", lançado pela Companhia das Letras, reúne toda a prosa e poesia de Ana, publicada tanto em vida quanto postumamente: Cenas de abril, Correspondência completa, Luvas de pelica, A teus pés, Inéditos e dispersos, Antigos e soltos; além de uma seção com poemas inéditos, um posfácio lindo da Viviana Bosi e um apêndice que é uma alegria para os curiosos como eu.

É difícil não me sentir próxima dessa escrita que, mesmo datada de 30, 40 anos atrás, continua tão atual, como se eu estivesse falando comigo mesma ou com uma amiga muito próxima. Talvez por tudo ter sido escrito enquanto ela tinha a mesma idade que eu, um pouco mais nova, um pouco mais velha. Na verdade, acho que esse era um dos intuitos dela, fingir que a gente é muito próximo. Fingir que a gente é quase ela?

Da Ana, sei o suficiente para me deixar divagando por horas. Ela fez faculdade na PUC, assim como eu e minha mãe. Fico imaginando se talvez elas teriam se esbarrado por lá, não fossem os curtos anos de separação entre a saída de uma e a entrada de outra. Ela estudou Letras, minha segunda opção no vestibular caso eu não passasse em Design. Ela, por sinal, conheceu uma mulher que viria a ser minha professora, justamente nesse projeto sobre as poetas. No final de sua vida, ela morou na mesma rua que atravessa a minha, um pouquinho mais longe, um lugar por onde eu passo frequentemente. Tão próxima e tão distante. Ela morreu 7 anos antes de eu nascer. Impossível não imaginar como teria sido se tudo fosse diferente.

Mesmo assim, ainda leio passagens como "Memórias de Copacabana. Santa Clara às 3 da tarde" e sei exatamente o feeling. Essa passagem em especial: "Tardes de sábado. Que gosto desgraçado de não acontecer. Noites de sábado. Ar de espera. Chove e Copacabana se ilumina" é como se fosse uma fotografia do invisível. É estar aqui. Outra coisa que a Ana Cristina fez, traduziu o Rio de Janeiro em palavras. Não foi a única, claro, mas foi do jeito dela. Ler a poesia de Ana é ser carioca, mulher, revolução. Estar aqui, nessa cidade de calor humano e histórias. Atmosfera pesada de segredos e revelações. Ana Cristina pode não estar mais aqui, mas sua obra ainda nos fascina sem perder um décimo do fervor. 

Não consigo inserir no blog, mas tem esse vídeo dela recitando um poema, lindo, lindo, aqui.


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O "Poética" teve capa e projeto gráfico feitos pela Elisa von Randow e ambos são impecáveis, na minha opinião. Da capa vibrante em ciano, magenta e amarelo pra mistura das cores no miolo, resultando nos textos em um roxo que vibra a essência da obra de Ana Cristina: profunda e moderna, refinada sem perder a ousadia. Elegante.

O que eu achei mais curioso (e legal), foi que no nosso projeto da faculdade também usamos a cor roxa para representar a autora e uma foto só da metade do rosto dela na capa, alinhada à margem direita :)