Quase passei minha faculdade inteira sem nunca ter ouvido falar nela. Quase. Nos últimos períodos, um dos meus professores mencionou muito por alto que o trabalho de alguém lembrava o estilo dela. Ninguém conhecia. Ele explicou, muito rápido, que ela tinha sido uma grande diretora de arte em NY e que era brasileira, mas por aí o assunto se perdeu.
Guardei o nome na memória, mas só fui relembrar ano passado, quando vi "O Design de Bea Feitler" ali, lindo e enorme, exposto na Livraria da Travessa. Mais uma obra impecável da Cosac Naify (Elaine Ramos, não te conheço mas já te amo), o livro conta com duas narrativas paralelas: uma sobre a vida de Bea, escrita por seu sobrinho Bruno, e outra sobre sua obra, escrita pelo Andre Stolarski. Nas dimensões de uma Harper's Bazaar (revista na qual Bea trabalhou como diretora de arte por muitos anos e logo no início de sua carreira), é repleto de imagens tanto de projetos como de fotografias pessoais dos mais variados tipos. De ícones que todos já vimos e poucos sabemos a autoria, à raridades feitas por nomes como Andy Warhol. Uma delícia de ler, seja pela história, pela carreira ou pelas imagens.
Terminei o livro querendo saber mais. A Bea também não teve uma vida das mais comuns, o que pode ter ajudado também. Filha de pais alemães refugiados do nazismo, ela cresceu em Ipanema. Quando chegou a hora de escolher uma profissão, queria trabalhar com moda e foi para os Estados Unidos fazer faculdade de Design. Se encontrou no design gráfico, e mais precisamente na direção de arte.
Minha sensação é a de que ela sempre esteve no lugar certo e na hora certa. Conheceu as pessoas certas e foi indicada para os cargos certos, teve de graça as oportunidades que muitas pessoas pagariam para ter. Mas, de modo algum, quero diminuir o talento, dedicação e visão que essa mulher possuía e emprestou ao mundo.
A vida da Bea, pela minha leitura do livro, era muito assim: um furacão, com suas pulseiras que faziam barulho, passos firmes e a voz que tomava as decisões finais nas editoras. A Nova Iorque dos anos 60 e 70, com seu mundo da moda, drogas, Studio 54 e cultura pop. O Rio de Janeiro como safeplace, e uma risada daquelas que ocupam o lugar. Ela trabalhou com tantos nomes conhecidos hoje: Helmut Newton, Richard Avedon, Andy Warhol, Annie Leibovitz; deu aulas pro Keith Harrington, era amiga da Marina Colasanti. Começou cedo, com 25 anos e já diretora de arte, e quando saiu da Harper's Bazaar, foi direto trabalhar com Gloria Steinem na revista Ms. Passou tão rápido e se foi, no início dos anos 80. Perda imensa.
Descobri que já conhecia vários trabalhos icônicos dela, destituídos de sua autoria e contexto como a maioria das coisas que incorporamos à nossa cultura fica. Ela era incrível no processo de diagramar imagens e dar ritmo às sequências de fotos e textos; era inovadora, mas conseguiu refletir seu estilo em tudo que fez. É engraçado olhar produções de design antigas porque dá pra ver o quanto mudou em apenas 30 anos, e o quanto a linguagem visual dessa época está, ainda assim, tão permeada na nossa que as vezes fica difícil distinguir o que ela tinha de tão especial.
Descobri que já conhecia vários trabalhos icônicos dela, destituídos de sua autoria e contexto como a maioria das coisas que incorporamos à nossa cultura fica. Ela era incrível no processo de diagramar imagens e dar ritmo às sequências de fotos e textos; era inovadora, mas conseguiu refletir seu estilo em tudo que fez. É engraçado olhar produções de design antigas porque dá pra ver o quanto mudou em apenas 30 anos, e o quanto a linguagem visual dessa época está, ainda assim, tão permeada na nossa que as vezes fica difícil distinguir o que ela tinha de tão especial.
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